Embargos de terceiro no Novo CPC: como funciona
Os embargos de terceiro são um remédio jurídico utilizado para combater a constrição indevida de bens para pagamento de dívidas. Neste texto, serão abordadas as principais informações sobre esse procedimento, bem como as principais dúvidas sobre ele serão sanadas.
Quem pode ajuizar?
Mesmo que o nome do procedimento especial indique que a pessoa que interpõe os embargos de terceiro seja alguém alheio às partes do processo[am1] , é importante definir quem é elegível para entrar com o pedido, por meio de advogado.
O Código de Processo Civil indica, os parágrafos 1º e 2º do artigo 674, quais são as pessoas entendidas como terceiros aptos a entrar com os embargos:
“Art. 674. § 1º Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor.”
“Art. 674. § 2º Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos:
I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua meação, ressalvado o disposto no art. 843;
II - o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação realizada em fraude à execução;
III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte;
IV - o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos.”
Dessa forma, o legislador definiu o “terceiro” como não só o proprietário do bem que está indevidamente sendo alvo de algum tipo de constrição, mas também o possuidor do bem ou até o proprietário fiduciário do mesmo.
Além disso, entende-se como terceiro não só as pessoas que são possuidoras do bem em questão (direta ou indiretamente), mas também algum credor que já tenha garantia real de expropriação judicial do bem em questão.
No caso do inciso IV do parágrafo 2º do artigo 674, entende-se como terceiro para os embargos algum outro credor que ainda não tenha o bem como o seu, mas seja detentor do título judicial que garante que o bem em questão é legalmente dele.
Tempo para ingressar com o pedido
Em relação ao tempo que o terceiro tem para entrar com os embargos, a legislação vigente deixa bem claro qual é o tempo para interposição do pedido:
“Art. 675. Os embargos podem ser opostos a qualquer tempo no processo de conhecimento enquanto não transitada em julgado a sentença e, no cumprimento de sentença ou no processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da adjudicação, da alienação por iniciativa particular ou da arrematação, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta.”
O embargante, portanto, poderá entrar com os embargos de terceiro a qualquer momento durante o processo de conhecimento, desde que não transite em julgado a sentença que leva consigo a restrição do bem indevidamente apontado no processo.
É importante apontar que é possível entrar com os embargos até no momento do cumprimento de sentença, em até cinco dias após a adjudicação, alienação ou arrematação, mas sempre antes que a respectiva carta seja assinada.
Após a assinatura da carta que compromete o bem indevido à sua respectiva constrição legal, o processo para que o terceiro o reveja se torna significativamente mais complexo e demorado.
Quem julga os embargos de terceiro?
O texto do Código de Processo Civil também indica qual é o juiz responsável para analisar o pedido de embargos de terceiro.
De acordo com o artigo 676 do Código, a responsabilidade de analisar o caso é do próprio juiz que autorizou o arremate/sequestro/alienação do bem indevidamente:
“Art. 676. Os embargos serão distribuídos por dependência ao juízo que ordenou a constrição e autuados em apartado.”
Já o parágrafo único do artigo em questão aponta que os embargos serão oferecidos no juízo deprecado em situação onde a constrição do bem é realizada através de uma carta, voltando ao juízo responsável se a carta já houver sido devolvida ou se o bem for indicado pelo juízo deprecante.
Como funciona o procedimento dos embargos de terceiro?
Cabe ao terceiro embargante demonstrar, na petição inicial, que o bem constringido ou ameaçado de constrição é seu, apresentando provas documentais ou testemunhais da posse ou propriedade sobre o bem em discussão.
Ao apresentar o pedido, as partes envolvidas no processo terão o prazo de 15 dias úteis para apresentar suas contrarrazões ao embargo apresentado pelo terceiro.
Quando o terceiro envolvido é um credor com garantia real sobre o bem constringido, o embargado poderá alegar apenas três coisas sobre os embargos de terceiro, conforme aponta o artigo 680 do Novo CPC:
“Art. 680. Contra os embargos do credor com garantia real, o embargado somente poderá alegar que:
I - o devedor comum é insolvente;
II - o título é nulo ou não obriga a terceiro;
III - outra é a coisa dada em garantia.”
O terceiro pode atribuir como “embargado” tanto a parte credora da ação como a parte devedora, uma vez que ambas se beneficiam da constrição indevida do bem alheio.
O credor, que provavelmente apontou o bem como passível de apreensão, se beneficia por buscar o título de compensação sobre um bem que não é do devedor; enquanto o devedor se beneficia por ter indicado um bem que legalmente não é seu para utilizar como forma de quitação da dívida.
Caso o juiz responsável entenda como procedente os embargos de terceiro, o mesmo ordenará a suspensão da constrição sobre o bem alheio, reconhecendo a incompatibilidade do mesmo com o processo que segue.
“Art. 678. A decisão que reconhecer suficientemente provado o domínio ou a posse determinará a suspensão das medidas constritivas sobre os bens litigiosos objeto dos embargos, bem como a manutenção ou a reintegração provisória da posse, se o embargante a houver requerido.”
É importante destacar que a suspensão não é sobre a matéria do processo em si, mas especificamente sobre a constrição colocada sobre o bem do terceiro não envolvido na demanda judicial que segue.
De qualquer forma, é possível que o juiz, ao acatar os embargos, determine a prestação de caução para que o bem indevidamente incluído no processo seja liberado do mesmo, com o objetivo de garantir que o processo principal não seja prejudicado.
Por fim, o acolhimento dos embargos de terceiro resulta na exclusão do bem que foi constringido indevidamente no processo, reconhecendo a incompatibilidade do bem com a demanda em si.
“Art. 681. Acolhido o pedido inicial, o ato de constrição judicial indevida será cancelado, com o reconhecimento do domínio, da manutenção da posse ou da reintegração definitiva do bem ou do direito ao embargante.”
Mudanças que o Novo CPC trouxe sobre os embargos de terceiro
Os embargos de terceiro não são uma novidade do Novo CPC, já estando previstos no texto do Código de 1973. Entretanto, o Código de 2015 apresentou algumas mudanças sobre o tema.
Em primeiro lugar, houve a ampliação do conceito de “terceiro” para a interposição dos embargos, o que possibilita uma compreensão maior de quem é legitimado para realizar o pedido.
A segunda grande mudança foi o estabelecimento da jurisprudência sobre o assunto dentro do Código, incluindo a possibilidade dos embargos não só na constrição em si, mas também mediante a ameaça de que a mesma ocorra sobre o bem indevido.
Por último, o Novo CPC solidificou a possibilidade de interposição dos embargos de terceiro a qualquer momento do processo, respeitando a exceção de trânsito em julgado da sentença final.
O que é legitimidade passiva nos embargos de terceiro?
O terceiro, ao apresentar os embargos com o objetivo de retirar do processo um bem que é seu por direito ou garantia real, atenta contra a constrição daquele bem, indicando um dos polos (ou ambos) do processo como o responsável por responder ao ato realizado.
Essa responsabilidade, que coloca a parte como embargada, é chamada de legitimidade passiva. Isso quer dizer que o terceiro aponta uma ou ambas as partes como responsáveis por indicar o bem indevidamente para alienação.
Dessa forma, o terceiro deve indicar se o embargado é aquele que está usufruindo do erro em indicar o bem para constrição ou aquele que indicou o bem para arresto, ou, em outros casos, poderá indicar ambos como embargados, criando um litisconsorte de legitimidade passiva.
Cabe ao embargante, nessa situação, definir qual será a parte (ou partes) responsável por responder aos embargos de terceiro, de acordo com a constituição do caso específico e das provas apontadas pelo embargante no ato.
Perguntas frequentes sobre embargos de terceiro
Neste momento do artigo, respondemos às perguntas mais comuns sobre embargos de terceiro que são encontradas nos principais motores de busca da internet.
Qual a diferença entre embargos de terceiro e oposição?
Embora ambos sejam procedimentos especiais realizados por terceiros (aquele que não é parte) dentro de um processo, não há relação direta entre os embargos de terceiro e a oposição.
A oposição é o tipo de procedimento especial, emplacado no processo pelo terceiro interessado, cujo objetivo é obter a mesma coisa ou direito que uma das partes cobra da outra dentro do processo.
“Art. 682. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos.”
Assim, a oposição não tem nenhuma relação com os embargos de terceiro, que são o procedimento especial que visa proteger os bens do terceiro de uma constrição ou ameaça de constrição indevida.
É possível o ajuizamento de embargos de terceiro preventivos?
O texto do Novo Código de Processo Civil prevê que os embargos de terceiro miram na constrição ou ameaça de constrição de um bem indevido no processo.
Isso significa que não há mais a existência de embargos de terceiro preventivos, uma vez que o texto já implica a possibilidade de ajuizamento dos embargos em casos não só de consolidação da constrição, mas também de ameaça.
Há caução nos embargos de terceiro?
Os artigos específicos que tratam do tema não apresentam obrigatoriedade de caução para os embargos de terceiro, mas nada impede que o juiz determine a prestação de caução para que o pedido tenha todos os seus efeitos resolvidos.
A caução pode ser pedida para a proteção do credor da ação principal, para que o seu direito não seja prejudicado por meio da aplicação dos embargos de terceiro.
Conclusão
Os embargos de terceiro podem ocorrer com frequência dentro de processos envolvendo execuções judiciais, uma vez que não é incomum situações onde um devedor pode estar em débito com vários credores diferentes, o que aumenta a possibilidade de arresto indevido de bens.
Dessa forma, o advogado que já trabalha na área ou procura entrar nesse ramo do direito deve conhecer com intimidade os embargos de terceiro, principalmente se estiver representando esse terceiro.
Embora o tema não tenha sofrido grandes alterações entre o Novo CPC e seu predecessor de 1973, a pacificação da jurisprudência sobre o tema dentro do texto do Código possibilitou uma melhor interpretação da lei, além de oferecer mais segurança jurídica aos envolvidos.
Data da conclusão/última revisão: 15/04/2021
Tiago Fachini
Gestão de Marketing Estratégico na Univille (2006 a 2008); MBA em Marketing na Sustentare Escola de Negócios (2011 a 2012). Gerente de marketing e colunista do Blog ProJuris, palestrante, professor, podcaster jurídico e, acima de tudo, um apaixonado por tecnologia e pelo mundo jurídico com mais de uma década de atuação dedicada ao mundo digital.