Santa Dulce dos Pobres
Benigno Núñez Novo
Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes (1914-1992) nasceu em Salvador, Bahia, no dia 26 de maio de 1914. Filha de Augusto Lopes Pontes, dentista e professor da Universidade Federal da Bahia, e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes.
Em 08 de fevereiro de 1933, logo após a sua formatura como professora, Maria Rita entra então para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe. Em 13 de agosto de 1933, recebe o hábito de freira das Irmãs Missionárias e adota em homenagem a sua mãe, o nome de Irmã Dulce.
Irmã Dulce foi uma religiosa católica brasileira que dedicou a sua vida a ajudar os doentes e os mais necessitados. Foi beatificada pelo Papa Bento XVI, no dia 10 de dezembro de 2010, passando a ser reconhecida com o título de "Bem-aventurada Dulce dos Pobres".
Desde criança, Irmã Dulce desejava seguir a vida religiosa e rezava muito, pedindo algum sinal que mostrasse se deveria ou não seguir esse caminho. Ainda na adolescência, começou a desenvolver a sua missão de ajudar os mendigos, carentes e enfermos.
Em 1936, com 22 anos, Irmã Dulce fundou a União Operária São Francisco juntamente com frei Hildebrando Kruthaup. Deve-se também à Irmã Dulce a criação do Colégio Santo Antônio, voltado para os operários e suas famílias.
Importante também foi a sua participação na criação de um albergue para doentes, localizado no convento de Santo Antônio. O espaço depois viria a se transformar no Hospital Santo Antônio.
Em 1980, durante a primeira visita do Papa João Paulo II no Brasil, Irmã Dulce foi convidada a subir no altar e recebeu do Papa um terço. Ela também ouviu as seguintes palavras: "Continue, Irmã Dulce, continue".
Em 1988, foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz pelo então Presidente do Brasil José Sarney, com o apoio da rainha da Suécia.
Em 2000 recebeu do Papa João Paulo II o título de "Serva de Deus". Foram mais de 50 anos dedicados a dar assistência aos doentes, pobres e necessitados.
Irmã Dulce começou a apresentar problemas respiratórios e, apesar de ter uma saúde frágil, não interrompeu o seu trabalho. Já debilitada, foi internada no Hospital Português da Bahia, depois transferida para a UTI do Hospital Aliança e finalmente para o Hospital Santo Antônio.
No dia 20 de outubro de 1991, Irmã Dulce recebeu a visita do Papa João Paulo II para receber a benção e a extrema-unção.
Irmã Dulce faleceu em Salvador, no dia 13 de março de 1992. Seus restos mortais estão enterrados na Capela do Hospital Santo Antônio.
Em outubro de 2010, a Congregação para a Causa dos Santos, através de voto favorável e unânime de seu colégio de cardeais e bispos, reconheceu a autenticidade de um milagre atribuído à Irmã Dulce, cumprindo, dessa forma, a penúltima etapa do processo de Canonização: estágio que levaria à beatificação da religiosa no ano seguinte. O anúncio foi feito no dia 27 de outubro de 2010 pelo então Arcebispo Primaz do Brasil, cardeal D. Geraldo Majella Agnelo, em coletiva realizada na sede das Obras Sociais Irmã Dulce, em Salvador.
O referido milagre ocorreu na cidade de Itabaiana, em Sergipe, quando, após dar à luz a seu segundo filho, Gabriel, Claudia Cristina dos Santos sofreu uma forte hemorragia, durante 18 horas, tendo sido submetida a três cirurgias na Maternidade São José. Diante da gravidade do quadro, o obstetra Antônio Cardoso avisou a família que apenas “uma ajuda divina” poderia salvar a vida de Cláudia. Em desespero, a família da miraculada chamou o padre José Almí para ministrar a unção dos enfermos. O padre, no entanto, decidiu fazer uma corrente de oração pedindo a intercessão de Irmã Dulce e deu a Cláudia uma pequena relíquia da Bem-Aventurada. A hemorragia cessou subitamente.
O caso de Cláudia foi analisado por dez peritos médicos brasileiros e seis italianos. Segundo o médico Sandro Barral, um dos integrantes da comissão científica que analisou o milagre, “ninguém conseguiu explicar o porquê daquela melhora, de forma tão rápida, numa condição tão adversa”. O milagre passou por três etapas de avaliação: uma reunião com peritos médicos (que deram o aval científico), com teólogos, e, finalmente, a aprovação final do colégio cardinalício, tendo sua autenticidade reconhecida de forma unânime em todos os estágios.
O segundo milagre reconhecido pelo Vaticano e que levou à canonização pelo papa Francisco é a cura instantânea da cegueira de um homem de cerca de 50 anos. O paciente, que não teve o nome divulgado, conviveu com a cegueira durante 14 anos e voltou a enxergar de forma permanente desde 2014.
A cura teria acontecido em um dia em que este paciente estava com uma conjuntivite e com dores agudas nos olhos e clamou por Irmã Dulce por uma solução. No dia seguinte, ele teria voltado a enxergar.
— Não tinha explicação. Era um paciente que estava cego e que de um dia para o outro volta a enxergar, sem explicação – afirma Sandro Barral, médico das Obras Sociais Irmã Dulce e que foi perito inicial da causa.
O paciente, que antes de ficar cego trabalhava na área de informática, caminhava com a ajuda de uma guia e tinha acabado de receber um cão-guia que havia sido treinado exclusivamente para acompanhá-lo no dia a dia.
Antes de ser encaminhado para Roma, o caso foi analisado por oftalmologistas de Salvador e de São Paulo, que examinaram pessoalmente o paciente e não encontraram explicação para a cura.
— Tem uma coisa que é ainda mais espetacular: os exames dele são de um paciente cego. Porque tem lesões pelas quais o paciente não deve enxergar. E ele enxerga – afirmou Sandro Barral.
O milagre foi avaliado por uma comissão de médicos em Roma, que também não encontrou explicação científica para o acontecimento. Na sequência, o caso foi analisado por uma comissão de teólogos e depois por uma comissão de cardeais.
No dia 14 de maio de 2019, o Vaticano reconheceu o segundo milagre de Irmã Dulce, que será proclamada Santa, informou o Vaticano.
O papa Francisco decidiu canonizar Irmã Dulce durante o Consistório Ordinário Público (reunião de cardeais). Durante o evento, realizado na Sala Clementina, no Vaticano, no dia 1 de julho de 2019, Papa Francisco optou por canonizar a religiosa brasileira após a comprovação dos dois milagres.
A data marcada para a consagração é 13 de outubro de 2019.
Frases da Irmã Dulce:
A Caridade
- "O importante é fazer a caridade, não falar de caridade. Compreender o trabalho em favor dos necessitados como missão escolhida por Deus"
- "Se Deus viesse à nossa porta, como seria recebido? Aquele que bate à nossa porta, em busca de conforto para a sua dor, para o seu sofrimento, é um outro Cristo que nos procura"
- "Procuremos viver em união, em espírito de caridade, perdoando uns aos outros as nossas pequenas faltas e defeitos. É necessário saber desculpar para viver em paz e união"
- "É preciso que todos tenham fé e esperança em um futuro melhor. O essencial é confiar em Deus. O amor constrói e solidifica"
A Essência Humana
- "Sempre que puder, fale de amor e com amor para alguém. Faz bem aos ouvidos de quem ouve e à alma de quem fala"
- "No coração de cada homem, por mais violento que seja, há sempre uma semente de amor prestes a brotar"
- "Se houvesse mais amor, o mundo seria outro; se nós amássemos mais, haveria menos guerra. Tudo está resumido nisso: Dê o máximo de si em favor do seu irmão, e, assim sendo, haverá paz na terra"
- "O corpo é um templo sagrado. A mente, o altar. Então, devemos cuidá-los com o maior zelo. Corpo e mente são o reflexo da nossa alma, a forma como nos apresentamos ao mundo e um cartão de visitas para o nosso encontro com Deus"
A Fé
- "O amor supera todos os obstáculos, todos os sacrifícios. Por mais que fizermos, tudo é pouco diante do que Deus faz por nós"
- "No amor e na fé encontraremos as forças necessárias para a nossa missão"
- "Nós somos como um lápis com que Deus escreve os textos que Ele quer ditos nos corações dos homens"
- "Habitue-se a ouvir a voz do seu coração. É através dele que Deus fala conosco e nos dá a força que necessitamos para seguirmos em frente, vencendo os obstáculos que surgem na nossa estrada"
A Questão Social
- "Tudo seria melhor se houvesse mais amor"
- "O que fazer para mudar o mundo? Amar. O amor pode, sim, vencer o egoísmo"
- "A minha política é a do amor ao próximo"
- "Não entro na área política, não tenho tempo para me inteirar das implicações partidárias. Meu partido é a pobreza"
Sua Obra
- "Quando nenhum hospital quiser aceitar algum paciente, nós aceitaremos. Essa é a última porta e por isso eu não posso fechá-la"
- "Obra de Deus não se interrompe, porque Ele não permite. Se foi Deus quem construiu o hospital, por que haveria de sofrer interrupção? Eu nada fiz, porque nada sou. Quem faz tudo é Deus, nunca se esqueça disso"
- "Se fosse preciso, começaria tudo outra vez do mesmo jeito, andando pelo mesmo caminho de dificuldades, pois a fé, que nunca me abandona, me daria forças para ir sempre em frente"
- "Foi o nosso povo, com a sua fé, sob inspiração de Deus, que construiu toda essa obra".
Oração a Irmã Dulce
Senhor Nosso Deus, recordando a vossa Serva Dulce Lopes Pontes, ardente de amor por vós e pelos irmãos, nós vos agradecemos pelo seu serviço a favor dos pobres e dos excluídos. Renovai-nos na fé e na caridade, e concedei-nos a seu exemplo vivermos a comunhão com simplicidade e humildade, guiados pela doçura do Espírito de Cristo, Bendito nos séculos dos séculos. Amém!
Benigno Núñez Novo é advogado e doutor em direito internacional pela Universidad Autónoma de Asunción (UAA).
Referências:
PASSARELI, Gaetano. Irmã Dulce: o anjo bom da Bahia. São Paulo: Paulinas, 2010.
https://www.irmadulce.org.br/portugues/religioso/vida-de-irma-dulce
https://cruzterrasanta.com.br/irma-dulce/10/101/
Data da conclusão/última revisão: 12/10/2019
Redação
Código da publicação: 9570
Como citar o texto:
Santa Dulce dos Pobres. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 18, nº 950. Disponível em https://www.boletimjuridico.com.br/fique-por-dentro/9570/santa-dulce-pobres. Acesso em 1 nov. 2019.
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